Confira abaixo a íntegra de artigo publicado pelo jornal Correio do Povo na edição desta terça-feira (30):
O Senado, seus escândalos e riscos
Dá mostras de ser inesgotável a capacidade do Senado brasileiro de emendar escândalos chocantes. Em poucos meses, ficamos sabendo, com justificado sentimento de revolta, que aquela Casa legislativa que sustentamos, a mais cara do mundo, faz da malversação do dinheiro público uma orgia que parece não ter mais fim. Depois das denúncias de horas extras pagas a fantasmas, das 181 diretorias para apadrinhados políticos e da farra das passagens aéreas, pensou-se que o Senado passaria por um rígido processo de moralização. Para surpresa geral, porém, veio à tona mais um gravíssimo fato: os atos secretos, cometidos por parlamentares e funcionários acostumados a agir nos caminhos subterrâneos do poder.
Efetivados às escuras, por debaixo dos panos, os atos secretos permitiram a criação de cargos, nomeações de parentes e a elevação de salários. Tudo feito à sombra dos gabinetes, de forma ardilosa, bem ao contrário do que prega a cartilha da transparência e da probidade administrativas. E o principal protagonista dos desmandos, para espanto de todos, era o próprio presidente do Senado que, num lance ainda mais inacreditável, mereceu ardorosa defesa do presidente da República.
À denúncia da rapinagem subterrânea seguiram-se os costumeiros e deslavados lamentos dos envolvidos e as respostas prontas de membros da Casa que prometem higienizar o parlamento. A sociedade brasileira lembra bem, no entanto, que promessas de moralização já foram feitas diante de outros episódios indecorosos e que nenhuma saiu efetivamente do campo das boas intenções. Não há porque acreditar que desta vez será diferente.
A sucessão de escândalos no Senado maltrata a democracia ao fragilizar a credibilidade de uma das suas principais instituições. É preciso que quem protagoniza as várias imoralidades de que se tem tido notícias seja punido com todo o rigor da lei, inclusive com o seu afastamento de cargos, se for necessário, a fim de que seja preservada a instituição que representa. Não podemos permitir que seja abalada a credibilidade do Estado democrático de direito, especialmente se os solavancos advêm de indivíduos sem o mínimo decoro para ocupar posições políticas de destaque. Suas ações indecentes e inadmissíveis não sangram apenas os cofres públicos; sangram também a honra e a dignidade dos cidadãos brasileiros.
Claudio Lamachia – Presidente da OAB/RS
Rodney Silva
Jornalista - MTB 14.759