A contadora de causos - Psique psicotrópica


08.05.07 |

Por Ingrid Birnfeld,
advogada


A advogada foi procurada por um cliente que desejava alterar o registro de nascimento de sua filha. O homem havia mantido um romance com uma mulher casada e ela engravidou, mas como o marido era estéril, não hesitou e deu o seu sobrenome à menina. 

Todo faceiro, a traição nunca importou, diante da alegria trazida ao casal. E o amante, na época sem condições para ajudar no sustento, acabou aceitando não ser reconhecido como pai.

Agora, anos depois, o pai biológico queria resolver a situação. A menina já era uma mocinha e exibia traços e gestos que deixavam evidente a real paternidade. Na pequena cidade, comentava-se que o casal teria planejado o relacionamento extraconjugal com a intenção de possibilitar a gravidez, e que isso seria de conhecimento da própria garota.

- Não agüento mais, doutora. Eles acharam que eu fosse engolir isso a vida toda, mas ela ficou a minha cara, cabelos de ouro e olhos azuis, alemoa de dar orgulho pra um pai - afirmou, inconformado.

A advogada, então, lhe falou sobre a ação judicial que poderia promover, mas pediu que ponderasse sobre as possíveis conseqüências psicológicas que a disputa causaria.

- Que ela seja gene teu, isso é uma coisa. Mas que ela te veja e te trate como pai, isso a Justiça não vai resolver, só a vida - advertiu.

Foi então que o cliente se declarou ciente e preocupado com as seqüelas que poderiam surgir, curiosamente invertendo a tônica proposta pela advogada.

- Doutora, eu é que pergunto como é que vai ficar a cabecinha dela se tudo ficar como está. Ela sabe que eu sou o pai, mas na carteira é aquele moreno cornudo, assim ela vai ficar "psicotrópica"...