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Publicado em 04.05.07
Por Carla Marques,
jornalista, repórter do jornal O Dia (*)
Figuras imprevisíveis essas que guardam a Justiça brasileira. De um lado, o ministro do STJ, Paulo Medina, flagrado pela Polícia Federal antecipando voto a favor de amigo no processo em que era relator.
Junto a ele, somam-se outros como o desembargador e ex-vice-presidente do TRF-2, José Eduardo Carreira Alvim, acusado de venda de influência e chantagem. Autor de vários livros, Carreira Alvim seria homenageado neste ano em formatura de uma turma do curso de Direito da UFRJ, onde era professor.
Em outro extremo, está o ministro Eros Grau, do STF, que dá o que falar pela pouca vergonha (no bom sentido) que lhe custou a piadinha "Eros 40 Grau(s)". Na semana passada, o ministro do Supremo lançou o romance "Triângulo no ponto", pela editora Nova Fronteira, em que narra a trajetória de três personagens pela ditadura militar. Entre corridas da polícia e defesa dos ideais, cenas de sexo recheiam o livro. Aparentemente com tintas autobiográficas, o magistrado acabou por criar certo frenesi em torno da publicação.
Em entrevista ao jornalista Ricardo Noblat, do Globo, Eros pareceu ser uma pessoa cálida e simpática. Em tempos de Operação Furacão no Poder Judiciário, o magistrado encontra na literatura um porto seguro para sua sensibilidade, afetada pelo efeito Brasília: “Aqui o ar é seco. Eu me sinto inseguro. Aqui é uma cidade onde não sou eu mesmo. Aqui sou ministro”.
O livro trata de uma época de idealismo puro. Hoje, ele garante que os valores não se perderam: “Tento preservá-los nos votos que dou. O Poder Judiciário é uma arena onde se joga a luta de classes. Sempre faço algumas coisas mostrando a minha preocupação com o social”.
É sempre encorajador ver boa fé e idealismo no alto escalão. Sobretudo porque idealismo é geralmente confundido com amadorismo. Atributo que certamente não cabe ao ministro.
(*) Artigo originalmente publicado (02.05.07) em http://www.diretodaredacao.com/
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