Desembargador preso seria paraninfo em setembro de turma na Universidade do Rio


26.04.07 | Magistratura

O lema “Todos são inocentes até que se prove o contrário” foi adotado por grande parte dos alunos do ex-vice-presidente do TRF  da 2ª Região,  o professor e  desembargador José Eduardo Carreira Alvim, um dos investigados no esquema de exploração de jogo ilegal, corrupção e venda de decisões judiciais a donos de casas de bingo e máquinas de caça-níqueis. Carreira Alvim é professor de Processo Civil e foi preso na Operação Furacão. As informações são da Globo.com .

Mesmo constrangidos com a situação do mestre, os estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) dizem que não vão fazer o pré-julgamento do professor. Boa parte deles entende que, por estudar Direito, seria errado julgá-lo sem ter acesso às provas e ao processo; e que só uma sentença poderá condená-lo ou não. Corporativismo ou não, eles dizem que põem em prática o que aprenderam na sala de aula.

Alguns ex-alunos de Carreira Alvim, no entanto, pensam de forma diferente. Deuseni Cordeiro fica dividida com a situação. “Pensando com o coração, acredito na inocência dele. Mas com a razão, tenho dúvidas”. Deuseni lembra que não se pode deixar de levar em consideração um ano de investigação.

Para o jovem Gabriel Duque, a imagem de Carreira Alvim em sala de aula é bem diferente da que está sendo veiculada na mídia. Ele diz que não pode desconfiar das provas, mas considera o caso estranho. “Não quero dizer que ele é culpado, mas também não vou dizer que é tudo armação. Não esperava isso pelo fato de ele ser um bom professor”.

No 6º período, Washington Oliveira já foi aluno de Carreira Alvim. Ele reconhece que o professor é um dos mais renomados processualistas do país, mas não gostaria de voltar a ter aulas com ele. “O nível das aulas era alto. Ele tem muito conteúdo, mas é difícil acompanhar. Não seria seu aluno de novo”. Washington acha provável que a Polícia Federal tenha provas para deixar Carreira Alvim em situação complicada.

 Professor da cadeira de Direito Processual Civil, Carreira Alvim era considerado um bom professor. Exigente, era tido como um mestre comprometido com seu trabalho, dedicado e muito acessível. Um professor assíduo, caso raro em uma faculdade pública - reconhecem os alunos.
 Apesar da bagagem cultural e do notório saber, era reconhecido por sua complexidade e pouca didática. “Apesar de entender muito do assunto e ser muito sábio, didaticamente não era a pessoa mais indicada para ensinar, pois não conseguia passar a matéria de forma simplificada. Ele abordava os temas de forma complexa”, lembra o estudante Gabriel Moraes. 

Reconhecido como um bom professor pelos formandos do 1º semestre de 2007, Carreira Alvim foi convidado para ser patrono da turma. A colação de grau será em setembro, mas, segundo a representante de turma Paula Caldas, os alunos não decidiram se mantém ou não a homenagem após o escândalo. “Vamos fazer uma assembléia com todos os 105 formandos e votar. Ainda temos um prazo para alterar o convite se for preciso”.

Paula acredita, porém, que não é melhor momento para a decisão e não sabe nem se o professor gostaria de continuar sendo homenageado. A representante é a favor de mantê-lo como homenageado. “Ele não foi condenado ainda. Não tivemos acesso aos autos. Não tem sentido retirar a homenagem, tendo em vista o grande professor que ele era”, defende.

Assim como vários alunos, representantes do Centro Acadêmico da faculdade dizem que a entidade decidiu não se posicionar até o final do julgamento. “Vai contra nossos princípios julgar antes. Todo julgamento ético é complicado de ser feito”, diz Juliana Conde. Segundo ela, o grande problema está associado ao envolvimento da mídia no caso. “Pregamos que a mídia não deve influenciar no julgamento do processo e que a sociedade civil não deve esperar momentos de grande comoção nacional para se manifestar. No sentido estrito do termo, é o juiz que tem que julgar.”

Também integrante do Centro Acadêmico, Amanda Alves de Souza lembra que o caso ganhou mais publicidade por envolver um magistrado, uma figura do poder judiciário. Ela diz que a mídia promove o pré-julgamento da mídia. "No caso João Hélio, os acusados foram pré-julgados. Por mais que houvesse algum réu confesso, isso é errado.”

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Leia a matéria seguinte
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Muitos preferem aguardar pela sentença

O saite Globo.com publica também as opiniões de alunos que preferem aguardar pela prolação da sentença

* O estudante Gabriel Moraes diz que todos merecem crédito e nega que se trate de corporativismo, mas do que é ensinado durante o curso. “Não é ficar cima do muro. É dar as mesmas oportunidades para todos, pois somos iguais. É o princípio da isonomia”, ensina. Gabriel se preocupa, no entanto, com a imagem do professor, caso fique provada sua inocência. “O escândalo da mídia é desnecessário. Quem vai juntar os cacos da imagem se a pessoa for inocente?”, pergunta.

* Na opinião de Rafael Vieira, é preciso esperar o término das investigações. “Não temos como julgar antes. Ainda não dá para ter uma opinião formada sobre o assunto.”

* Marcos Corredera diz que não pode reclamar de Carreira Alvim como professor, mas afirma que está dividido e não sabe em quem acreditar. Para ele, a solução é esperar o “martelo bater”. “Prefiro esperar sair a sentença”.

* Futura advogada, Nádia Souza defende que todos têm o benefício da dúvida e é preciso esperar o final do processo. “Acho complexo pré-julgar, ainda mais sendo estudante de Direito”. E reforça: por mais que essa situação pareça absurda, "isso poderia acontecer com qualquer um", diz.

* Bruno dos Santos explica que Carreira Alvim costumava criticar os juízes que aplicam direto a lei e não observam o caso concreto. Assim como os outros, ele prefere aguardar o final do processo. “Acho errado pré-julgar”.  Para Bruno, nem mesmo os outros envolvidos no escândalo podem ser condenados antes do tempo. “Acho que todos, até os bicheiros, são inocentes até se provar o contrário. O processo existe para isso. As provas indicarão a verdade”.

* A aluna Larissa Gaspar diz que foi pega de surpresa com a notícia da prisão do professor. “Vi o caso no jornal”. O choque está relacionado com a postura que Carreira Alvim tinha dentro da sala de aula. “É difícil lidar semanalmente com uma pessoa que prega justiça e igualdade e de uma hora para outra saber que ela está sendo acusada de lavagem de dinheiro”. Apesar das evidências, Larissa sustenta que seria errado considerá-lo culpado antes da sentença.