“Imaginem todos os dias alguém te perguntando como fazer algo que não é visto como possível? Pois eu quero advogar e vou exercer essa profissão que escolhi para viver”, declara Mateus Gusmão, 21 anos, sobre as inúmeras dificuldades que enfrenta diariamente, na vida de estudante de Direito, por ter deficiência visual congênita. É pensando em ajudar pessoas como Mateus que a OAB/RS lançou, nesta quinta-feira (31), uma frente de trabalho para mapear advogados, estagiários e estudantes de Direito com deficiência e desenvolver um projeto que minimize seus problemas de atuação profissional.
Mateus foi recebido e ouvido pelo presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, em seu gabinete na seccional: “Vamos mudar a realidade dessa e de outras histórias como a dele. Nossa entidade pode e deve se comprometer em identificar o número de pessoas que não conseguem exercer a profissão por causa de dificuldades como essa. Vamos trabalhar com o tema Acessibilidade”, argumentou o dirigente. “Conseguir resultados positivos com esse projeto é o pagamento para nós, voluntários da OAB, que temos a única pretensão de fortalecer e ajudar a classe jurídica e a cidadania”, afirmou Breier.
O sonho em exercer a advocacia
O estudante, que está no 6° semestre, contou que sempre quis ser advogado, e que quer atuar na área penal. No entanto, fica limitado no momento em que precisa ler livros e acessar sites que não possuem acessibilidade para portadores de deficiências visuais. “Muitas vezes, apesar dos problemas, eu escuto: ‘força, Mateus’. Mas há outros momentos em que não há crença na possibilidade da realização dos nossos objetivos. Por isso, fico imensamente feliz e grato com o apoio da OAB/RS e, principalmente, orgulhoso de saber que essa iniciativa também vai ajudar a outros colegas”, comentou.
Mateus, na ânsia de poder ler qualquer livro, descobriu uma câmera com inteligência artificial que garante a leitura de qualquer material impresso, pois reconhece textos com precisão, mesmo à distância. Com uma campanha chamada “Ajude Mateus a Ver”, através do site https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-mateus-a-ver, as pessoas que quiserem colaborar podem contribuir com qualquer valor, para ele adquirir o aparelho. “Vai facilitar em vários aspectos, fazendo com que eu possa ler livros impressos, placas, cardápios, e, principalmente, fazer com que minha futura carreira jurídica se torne muito mais tranquila, já que poderei ler processos”, explicou.
Equipe da Frente de Trabalho
A Frente de Trabalho será composta pelas Comissões de Direitos da Pessoa com Deficiência (CEPD), com a presidente Maria Helena Camargo Dornelles, e pela Comissão do Jovem Advogado (CEJA), com o presidente Antônio Zanette. A Caixa de Assistência dos Advogados do RS (CAARS), representada pelo vice-presidente, Pedro Alfosin, também colocou a entidade à disposição para, em conjunto, encontrar alternativas de auxiliar os profissionais.
Maria Helena contou que a comissão já está desenvolvendo projetos que visam à atuação junto com os Tribunais, para oferecer mais acessibilidade ao exercício profissional da classe jurídica. “O apoio da OAB/RS, por meio da Frente de Trabalho, é essencial e vai trazer ao Rio Grande do Sul, e quem sabe até inspirar o País, a criação de um projeto que garanta a acessibilidade em sites, processos e, principalmente, no sistema de processo eletrônico”, falou.
Também estavam presentes a vice-presidente da CEJA, Paula Cassol Lima; a estudante de Direito, Amanda Breier e o vice-presidente do CEPD, Francisco Telles; além da mãe de Mateus, Rejane de Souza Gusmão.
Caroline Tatsch
Jornalista
Fonte: OAB/RS